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ATELIÊ CRIATIVO - EDUCAÇÃO

O link foi criado para refletir sobre o processo criativo, as experimentações vivenciadas em aula, o uso das diferentes linguagens na criação, meu olhar como professor e colaborador na elaboração artística dos alunos. Além das minhas angústias, dúvidas, conquistas e aprendizados em educar. Não tenho o objetivo de uma cronologia ou uma sequência de construção. Não tenho. Apenas compartilhar minhas  inquietações vividas na educação.

JULHO,2023.

O trabalho do ateliê de artes que procuro desenvolver com a educação infantil,nas escolas onde atuo e com a compreensão da proposta, tem como objetivo transformá-lo num laboratório de experiências e vivências da Cultura da Infância.  O objetivo está na interligação das linguagens artísticas e suas manifestações ao jogo do brincar, aliado ao campo imagético, lúdico e do imaginário. Como diz Gandhy Piorsky, artista plástico, pesquisador nas áreas de cultura e produção simbólica, antropologia do imaginário e filosofias da imaginação: “O que provém do mundo repercute no ser e o que provém do ser ressoa no mundo. Portanto, o mundo é uma extensão do ser. Mas o ser não é apenas uma extensão do mundo, já que sua anterioridade provém de um desconhecido, de uma origem não conhecida. O mundo, a cultura local, o real, é o lugar em que a criança se goteja, se derrama ou se faz tempestiva, e, na pior e bem comum das hipóteses, resseca. Eis o amálgama anímico da criança: a cultura imaginal (o inconsciente coletivo) em profusão criativa, sendo jorrada na cultura local. Ou, inversamente, a cultura local promovendo impressões vivíssimas e gravíssima na arcaica influência imaginária. Quando a criança encontra espelhos no mundo, na cultura, espelhos desses conteúdos de sua fluência primeva, natural, ela se aproxima do seu eu e de suas fontes criadoras.” É na busca de reavivar esses repertórios através das sensações dos materiais explorados, da emersão e ampliação de novos conhecimentos com a dialógica da criança, do experienciar emoções e sentimentos, das relações afetivas e coletivas, que o ateliê abriu suas portas para o público. É proporcionar ao visitante percorrer por caminhos outrora, bem como, acompanhar os percursos dos processos criativos realizados neste ambiente. Nossa primeira exposição – “CULTURA BRASILEIRA”, com a orientação dos professores de artes Deise
Hoffmann e Jefferson Barbosa, falou do nosso pulsar como povo, dos nossos patrimônios culturais, suas manifestações e seus artistas. Iniciamos esse projeto confluindo toda educação infantil há adentrar pela nossa floresta, ouvindo os seus sons, conhecendo sua fauna e flora, reconhecendo os Povos da Floresta e trazendo das suas camadas espessas a potência do imaginário popular através das histórias, sua arte e de seus encantados. Falar da nossa cultura, é falar da diversidade, do respeito as diferenças, dos bens culturais
materiais e imateriais, do combate ao preconceito, da valorização desses artistas populares, é nos reconhecer e nos fortalecer como identidade. Nosso espaço de criação é para a troca de saberes e experiências criativas,
dialogando com o universo infantil e todas as formas de vida. É desenvolver uma Cultura da Paz. Acredito que conhecer, resgatar, valorizar esse imaginário de forma lúdica, expressiva, criativa, é construir o lugar do brincante na escola. É aproximar e reorganizar um novo espaço de brasilidades VIVO e vívido.

Bibliografia: Piorski, Gandhy. Brinquedos do Chão - A Natureza, O Imaginário e O Brincar. Editora Peirópolis, 2016.

 JUNHO,2022.

A Terra em sua rotação, mas o mundo sendo convidado a parar. Muitas mudanças e desafios dentro e fora do espaço escolar. O ano de 2020 através da ferramenta on-line e em 2021 de forma híbrida ou presencial. Em pouco tempo já se ouvia as falas e as brincadeiras novamente ocupando seus lugares. Foi assim que fomos tocando e tocados pelo projeto: “A Criança E Os Quatro Elementos”. Um contato mais direto com que o homem moderno parece ter desaprendido de seus ancestrais e o levando a maiores distancias de sua natureza. Aos poucos foram surgindo às primeiras formas, cores e texturas da diversidade complexa de vida existente nas florestas. Também se fizeram crescentes a necessidade de representação de seus povos, desde os originários até os que lutam pela terra para dela tirar o seu sustento e nos mostrar de como “ser” esta integração.  Surgiu o primeiro povoado habitado pelos Ribeirinhos, logo batizado pelos alunos de Comunidade da Ribeira do Bananal, em seguida a comunidade de seringueiros do Gavião Arqueiro e os quilombolas do Igarapé da Onça, ainda faltava à representação de nossos indígenas. Veio a Aldeia da Natureza acompanhada da lenda da Iara. Com ela, outra lenda vivida em nosso campo de experimentação artística foi o Boitatá. Ainda foi preciso que o Curupira viesse ser o guardião desse lugar cheio de mistérios e belezas. Foram tintas, argilas, pedaços de árvores, pedras e outros materiais que servissem de suporte para falar de nossas riquezas e culturas e que os quatro elementos fosses simbolicamente presentes. Com a obra pronta senti que faltava mostrar esse passeio por dentro, sentir a vida pungente e cheia de força dos Povos da Floresta. Com a interação entre alunos e professores através das narrativas, mostramos o nosso encantamento e respeito a esses Brasileiros com o vídeo “A Criança E Os Quatro Elementos”.

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JANEIRO, 2020.

 

O ALUMIADO é um site que fala sobre o processo criativo, pensamentos, trabalhos e imagens do arte-educador, Jefferson Barbosa. Não poderia ausentar-me, mesmo já passado algum tempo, o meu total repúdio a apologia ao nazismo feito pelo então ex-ministro da cultura, que já foi deposto e a pasta já ocupada por uma grande atriz relevante da nossa cultura, mas que já fez declarações na mídia que não condizem com a sua importância histórica de representatividade. O atual governo que o tinha nomeado, continua mostrando desde o seu começo, pensamentos e ações espúrias diante vários temas. Um (des)governo, por ser um descontrole, que tem o seu representante maior e sua equipe, pensamentos e ações que ofendem e maltratam seus artistas, professores, indígenas, idosos, mulheres, afrodescendentes, comunidade LGBTQ e crianças. Enfim, o seu POVO. Uma ode ao extermínio e ao preconceito. Os símbolos apresentados em vários discursos nos mostram a usurpação dos direitos e deveres para uma sociedade saudável e mais justa. Tem se procurado pelo embotamento da razão, e viver sobre o lume bruxuleante é encobrir a potencialidade de nos iluminarmos. Querer encarcerar a Arte e a Educação é retirar o que torna o homem capaz de conviver: a liberdade para sonhar. A arte serve para pensarmos, nos manifestar, ser representativa, contestadora, revolucionária, para se indignar, gritar, emocionar, rebelar, aquietar, confrontar,... Nos preencher de humanidades.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem do show Bem-Te-Vi, com o Coral Amigos do São Vicente, no qual fiz a concepção de cenário e figurino - 2019. Imagem: Marcello Ferreira. 

JULHO, 2019.

Faz tempo que não escrevo, muitos foram os motivos, mas a interrupção desse fluxo no Alumiado também se interpõe ao processo criativo que se faz no exercício da elaboração, organização e ação. E aos que acompanham o site, o movimento. Muitos são os questionamentos e experiências que aos poucos vão preenchendo este espaço, sem cronologias, mas com as necessidades do meu momento. Indo visitar os meus pais, costeando o mar, emergiram duas histórias: A alegoria da caverna, de Platão, e, A caverna, do Saramago. Por que vieram me povoar? Para mostrar-me do que sou feito. Fiquei pensando no significado de mito. Eles trazem um caráter simbólico procurando dar sentido a algo não compreendido ou até mesmo desconhecido, potencializando nossa força psíquica, ressignificando nossa história para o crescimento como seres humanos. Aí me veio, não tinha como ser ao contrário, a tal pergunta: como boa parte de brasileiros nomeia de mito um ser sem essa força mítica e sem capacidade construtiva de transformação? Nomeia pelo exercício que demorou e e ainda está tentando se consolidar chamado democracia. Ainda bem! A democracia! Enxergá-la, muitas vezes, é a sombra projetada pela fogueira na caverna, como a alegoria de Platão ou a contemporaneidade do shopping moderno, do José Saramago. Mesmo sendo para projetar o ideal pelo lume do fogo, a razão do momento (ou cegueira) está sendo guarnecida com mais de 40% de aumento de queimadas na Amazônia, fora os outros estados. Na desqualificação da educação e da cultura, que são fontes de liberdade, reflexão, provocação, transformação, transgressão e afirmação. A história sendo lambida pela chama da ignorância, tentando ocultar a construção da identidade desse país e da nossa formação. É preciso chamar os seres encantados de nossas florestas, das nossas águas, das nossas matas, as forças da natureza. Que venham o saci, mãe d'água, caipora, mula sem cabeça, curupira,... Chamar o povo, o meu povo, o nosso povo. Que venham os índios, caiçaras, quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, sertanejos, caipiras, urbanos,...  Habitem nossas escolas com a nossa cultura, com as nossas historias. Vai ser através desse legado cultural e social que construíremos a consciência ecológica integrada, o sentido de pertencimento às nossas raízes ancestrais e originárias, a auto-estima como identidade de um país diverso, heterogêneo e agregador. Quero falar tanto! Ainda quero falar das juninas. As danças que saíram dos salões europeus e se transformaram no interior do Brasil, trazendo a nobreza do caipira, matuto, capiau, boiadeiro, sertanejo, tabaréu,... Tenho vista as festas diversificarem com outras manifestações além das quadrilhas. Acho que tais transformações são decorrentes da época e se dá naturalmente, já que a cultura é Viva e é Vida. Tenho pensado que é hora de revolver a terra de nossas raízes e marcar a Festa Brasileira nas escolas. O trimestre a ser trabalhado com a Manifestação Popular Brasileira. O dia da multiplicidade de culturas, com seus costumes, cantos, danças e comidas. Restaurar os Brincantes no espaço escolar. Reintegrar o senso de comunidade entre alunos, profissionais e pais. Não mais o expectador, mas o cidadão participativo, pertencente e pulsante de criar.

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Festa no Sítio do Picapau Amarelo. Ed. I
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Luz do entardecer na casa de taipa do ti
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Novidades na Genêsis, Ateliê Criativo e
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Hoje, 20_30, novas postagens._www.alumia

 

 

MARÇO, 2019.

Bem-vindas as parcerias entre as linguagens.

Durante uma reunião de coordenação em que conversávamos sobre os projetos finais de 2017, a área de artes fez uma parceria com a área de multimídias na elaboração de uma animação a ser realizada pelos alunos do 2º ano do fundamental I. A história seria uma releitura feita junto com a professora de turma do clássico infantil A Arca de Noé. Eram quatro curtas que Lucimar Trotiño (professora de multimídias) faria e que cada um teria suas peculiaridades. Procuramos o que tinham em comum e o que acrescentaríamos como pertencentes a cada história. Assim foi feito. Trouxemos para o Ateliê de Artes muitos materiais que ajudariam na criação dos diferentes cenários que comporiam o curta. Foram tintas, massinha de modelar, pontas de lápis, desenhos dos alunos, galhos de árvores, papéis, pedras, tudo que contribuíssem para o nosso filme. Os alunos deram vida as diferentes estações do enredo, criando os personagens e paisagens, descobrindo o encantamento e entendo as possibilidades de transformação dos materiais em artístico. As artesanias foram momentos de potencialização como criadores e de esculpir as ideias em palpável. Durante a construção tivemos ajuda de professores que olhavam o desenvolvimento da imagem e ofereciam ferramentas que somavam a história; como a Maria Monteiro que nos presenteou com vários pequenos galhos caídos de uma árvore de sua casa. Sempre procuro que os temas desenvolvidos no ateliê sejam uma ampliação da acuidade do olhar. Não somente dos alunos, mas o meu como orientador e facilitador do seu processo criativo. Descobrir através da carpintaria o exercício do comprometimento com a investigação e experimentação, percorrendo os caminhos que a própria obra se mostra. Ir atrás das dificuldades, tentar decifrar, abrir espaços para mudanças e novos descobrimentos, entranhar-se da e na criação. Dialogar e não reproduzir. Uma boa dica é ter guardados de sobras que a própria demanda dentro do espaço nos oferece, como: ponta de lápis, canetas sem tinta, tocos de cera e por aí vai. Quando lhe oferecerem um material não o descarte por não estar dentro do seu interesse no momento. Olhe e veja se há diálogo. Recebo muitos que recuso e outros que digo: Não sei ainda para qual momento, mas vou precisar. E sempre acabo precisando. Ando pela rua, muitas vezes, recolhendo folhas, pedaços de galhos que chamam minha atenção por ter uma textura, um desenho, uma forma. Se gosto levo pro ateliê porque minha intuição já está em alerta pro trabalho que iniciou e eu ainda não o percebi. 

FEVEREIRO, 2019.

Um micro diário de um iniciante em Salvador.

 

Ao escrever este breve relato, fiquei pensando em que link o direcionaria. Ao final dos sete dias resolvi colocá-lo aqui, no Ateliê Criativo, por acreditar que a cultura passa pela fala como povo, como representante e pertencente a um grupo ou lugar. Conhecer a capital da Bahia é entranhar-se de africanidade. E, estranhamente ainda vista com preconceito, negando assim nossas forças ancestrais, inibindo a potencialidade do nutrir. Contar minha história nesta página é entender que a educação precisa descortinar e ver a cultura africana e afro brasileira mais abrangente, como forma de resistência, viver e interpretar o mundo, e não com a visão obscurantista e tratá-la como um folk lore. Não devemos e não podemos sufocar toda a força mítica que ajuda a compor o DNA brasileiro, além de sua importância e riqueza cultural.

1 - Laroyê! Pra que eu possa passar. Cheguei num domingo com a quentura do sol que aproveitava o seu banzo ao fim da tarde, com muita malemolência, fazendo da Orla Oceânica um desfile caloroso e colorido de diversidade. As peles reluzentes dos corpos, tranças, caracóis, blacks, o cheiro do dendê, exalado entre richelieu e orelhas - impregnando junto à maresia os casarios e vielas, os homens de mãos dadas, os casais abraçados e as mulheres no cortejo de sua liberdade. Tudo sobre a benção de todos os santos que só a Bahia têm. As doces águas na calmaria de suas encostas faz que eu me misture ao "Brasilbaianidade" que é estar nesse caldeirão afro, entre abarás, acarajés, jeitos, costumes, voz, fala e cultura de nossa África.

O velho e o novo - Esperançar. A morte e o nascimento caminham de mãos dadas, mostrando-nos o sentido de renascer a cada amanhecer. As dores, as perdas, também nos dizem o quão podemos e devemos nos transformar, recriar a vida novamente, continuar o movimento de mutação. Alvorei com a notícia de uma grande perda de uma amiga querida. E hoje é dia dele, dia de Omolu, aquele que traz a doença, mas também a cura. O orixá que veste a palha para encobrir suas chagas, o que dança bonito mostrando toda a sua beleza. Dia de saudar a terra e seu poder de renovar.

2- O céu se abriu de Ogum. Madrugada! Temperatura boa. Olho da cama pela janela e vejo nuvens adensarem em cinza, lançando seus primeiros pingos. O céu em chumbo amanheceu na cor de Ogum para que eu desbrave do Porto da Barra, passando pelo Castro Alves, descendo a Sete até chegar na Praça da Sé. Nessa Bahia onde os orixás são presentes e misturados ao cotidiano que encontro o majestoso casario de três andares, todo azul, que abriga a Fundação Casa de Jorge Amado e tem como guardião Exu, o orixá do movimento. E é no movimento do caminhar entre as ladeiras de pedras que vemos os filhos do guerreiro, forjando a ferramenta do seu trabalho, guerreando no seu dia a dia a procura do seu progresso. Como outrora guerrearam tantas outras vidas, derramando o seu sangue sobre as mesmas pedras em busca de liberdade.

3 - Momento de fogo no céu e búfalo no mercado. Dia para saudar a justiça de Xangô e espanar para longe os agouros com Iansã. Andar pela Bahia é sentir a luta dos movimentos e a beleza de sua arte. Arte que também é expressa no vestir, na cadência musical que exala pelos poros, no acompanhamento rítmico das passadas, em cada detalhe lembrando a sua história. Confirmar a certeza do querer e amainar o olhar no canto, na dança, na arquitetura e na cultura. Com a benção das águas que vem do céu ao quebrar dos trovões e relâmpagos se abre o grande Cortejo, no Largo de Quincas Berro D"água, ao eco dos batuques no Pelourinho.

5 - O caminho serpenteado até a casa do filho de Oxóssi. Da janela emoldurada vê-se Aro Boboi! Oxumaré tinge o céu com suas cores, serpenteando de prosperidade as paletas de nossas vidas. Foi percorrendo a sinuosa ladeira que adentrei os jardins da Casa do Rio Vermelho, antiga moradia do obá de Xangô, ogã e filho de Oxóssi, e de sua mulher Zélia Gattai. Entre as árvores e os sons dos pássaros ecoa a sabedoria de Mãe Stella. Sinto a representatividade, simbolismo e a fé na tradição aos cultos afro vividos pelo escritor. Em meio ao verde, folhas, terra, vento que assopra pelos cômodos, som das águas, o ar trazido de maresia que se sente as forças da natureza que preencheram suas histórias e fortaleceram nossa identidade e cultura. Axé!

6 - Epa Babá! Toda sexta é branca. As águas não vieram do céu, mas a calma que vem de olhar o oceano de Yemanjá é também sentir a doçura e a paz de Oxalá. Depois dos pés na areia clara, depois do repouso do corpo satisfeito e da claridade da alma, hora também de homenagear a rainha das águas.

7 - Eu vou me banhar nas águas. E foi assim o dia dela com banho de tranquilidade e fé, sob os cuidados de Janaína. Os cestos, o borrifar das águas de cheiro, a flor depositada nos balaios, as oferendas trazidas para a sua casa no Rio Vermelho, o sibilo e sussurro entre as bocas em orações, saudações, agradecimentos e pedidos, para no outro dia serem levados até a sua morada em alto mar. O mergulho no breu da noite com o reluzente branco, igual ao cardume prateado em noite de lua, aguardando o nascer da estrela solar para uma última benção. Mas hoje o dia é dela, é dia de espiritualidade e de festa, dia de brincar com os sambas de roda, os batuques, os eletrônicos, de comer feijoada, de dançar e celebrar o seu dia. Salve as deusas de água! Salve a Rainha do Mar!

E foi assim que um iniciante tornou-se um pouco iniciado na magia dessa terra abençoada da Bahia de Todos os Santos, cruzando a estrada com um novo olhar, despedindo-se desse xirê com a lembrança do Dique, mas, mais ainda, na potência da mistura de um povo, na crença das forças da natureza e seus elementos, com um pouco mais de aprendizado e respeito às diferenças e celebrando fazer parte dessa miscigenação conhecido como Brasil, a cor da brasa. 

Deixa a gira girar! Saravá! 

Salve!
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MARÇO, 31/2018.

 

Vamos abrir o ano com uma história que surgiu sem ter sido planejada para o espetáculo "Respeitável Público", com os alunos dos 3ºanos do fundamental I. Iniciamos o projeto com os jogos teatrais, fazendo com que os participantes ganhassem confiança e disponibilidade em experimentar a linguagem teatral. Aos poucos, a peça começou a ganhar corpo com o crescente interesse dos alunos. Além da história da peça, houve a necessidade de saber sobre a vida dos personagens e o surgimento do nome do circo. Iniciamos o mapeamento do D.N.A. dessa companhia circense, e com total comprometimento de todos. Cada ensaio, uma ideia nova para a cena, para o figurino, para a história dos seus personagens. A linguagem do teatro criando união em prol de um mesmo objetivo e desenvolvendo o que cada um poderia contribuir com o seu melhor. Um trabalho compartilhado com Katy Ribeiro, a professora de música, que foi também uma das integrantes da trupe. Em um determinado momento, no decorrer do trajeto, novas posturas foram assumidas pelos integrantes, onde foi possível ver uma mudança significativa na postura com o trabalho, com o grupo e com o entendimento do jogo da cena. As linguagens artísticas são um vasto campo de vivências, experimentações, organização, compreensão, elaboração, afirmação, transformação, conhecimento, respeito às diferenças, ao coletivo, que precisam ser respeitadas como atividades de importância na formação desses indivíduos, e não apenas meros recursos repetitivos para festas calendários, sem o olhar atento para o que se está fazendo, utilizando-se de clichês e padrões que esvaziam o manancial de potencialidades a serem desenvolvidos pelos alunos. Então, cabe a nós, os educadores, a curiosidade, a minuciosidade e o compromisso com nossas escolhas e objetivos.

Origem do Circo Pão Bororó.

 

Ivan Ostoiévsk nasceu num país bem distante do Brasil, numa vila cheia de casas feitas de pedras, com janelas e portas coloridas. Suas brincadeiras de meninote era correr pelas ruelas do vilarejo, banhar-se no córrego e apanhar as frutinhas multicoloridas recolhidas com cuidado no arbusto espinhoso, as  quais cabiam aos homens  separar os caroços e as mulheres a preparar o suco de Nanusch. Esse era o nome da bebida que ao ficar pronta reunia todos os moradores de Lalish-Mur em torno dos mais idosos, para ouvirem suas histórias e suas músicas. Durante essas noites, Ivan sempre procurava Baba Maleck, o ancião de mais idade, para ouvi-lo tocar seu violino. Aos poucos, foi aprendendo as notas e ganhou de seus pais, Pedro e Ursula Ostoiévsk, o seu primeiro instrumento.

Com o passar do tempo, o jovem Ivan começou a viajar apresentando-se nas ruas e feiras de seu país. Seu talento atravessou fronteiras, e o filho de Pedro e Ursula iniciou suas turnês por diferentes países, levando a música de seu povo. Mas a vida, como uma caixinha de música, reservou-lhe um arranjo melodioso. Num momento de descanso, eis que o seu dedo indicador ao rodar o globo terrestre para na América do Sul, no Brasil, mas precisamente na cidade de Sabará. Achou o nome bonito e decidiu partir para conhecer esse país novo. Para ele, isso é claro, acompanhado de seu violino. Foram dias, meses dentro de um navio até seus pés desembarcarem em terra firme. Gostou do que viu! O colorido da natureza, a diversidade de animais, as diferentes cores de que era feito o povo brasileiro. Andou na boleia de caminhão, na garupa de bicicleta e fez muitas caminhadas com algum morador local. Lá ia ele, Ivan Ostoiévsk, atrás de seu destino!

Chegou a Sabará e encantou-se com a arquitetura barroca de seus casarios, mais ainda, pela doce Doralice. Quando a viu, a jovem trazia na mão uma haste de Dente de Leão, que ao assoprar parecia ter espalhado o vento forte e quente da sua terra natal em seu coração. Doralice também se encantou com as músicas e as histórias do recém-chegado de terras tão longínquas, de Lalish-Mur, terra até então desconhecida para ela. Já podemos imaginar o que iria acontecer em seguida! Pois é! Doralice e Ivan se casaram aos pés das montanhas de Minas e passaram a viver numa chácara, alguns quilômetros da cidade. Aos domingos à tarde, tinham o costume de se deitarem na grama e ficar imaginando os desenhos que as nuvens brancas rabiscavam no azul. De repente, um grito! Assustado, Ivan levanta-se e procura Doralice que está sorrindo e apontando para o circo no céu.

O jovem casal Ostoiévsk resolve reunir os moradores da vila. Seus habitantes começaram a demonstrar suas potencialidades, a fim de fazerem parte da trupe que ali começava a se formar. Cada um, com seus estudos dando vida ao sonho refletido sob o céu da pequena Sabará. Dona Leontina, uma senhora que adorava os livros, ficou responsável por escrever o roteiro do primeiro espetáculo a ser apresentado; as irmãs: Adailza, Adalgiza, Anailza e Inês, excelentes bordadeiras da região, se encarregaram dos figurinos; Seu Ubaldo Vasconcelos, o bicicleteiro, construiu a bicicleta mais alta jamais vista por aquelas bandas e um monociclo; a espevitada Tide faria os números aéreos, já que vivia subindo nas árvores, pulando de galho em galho; Seu Nezinho, avô de Bentinho, se prontificou em fazer o palhaço, para a alegria de todo mundo, porque seus causos eram divertidíssimos e só ele sabia contar; Doralice se transformou na bailarina e Ivan no apresentador e músico. Foram muitos dias, meses e alguns anos até o dia da apresentação.

Para finalizar nossa história falta contar como surgiu o nome do circo da família Ostoiévsk. Ivan descobriu o nome às cinco e trinta, de uma quarta-feira fria, quando Seu Herval da Padaria passou com sua charrete, acordando os moradores com sua voz de cantor de ópera, anunciando a fornada de pão quentinho.

                            Pão Bororó! Pão Bororó! Pão Bororó! 

Em abril de 1972, no estado das Minas Gerais, foi fundado o Circo Pão Bororó.

De lá pra cá, vários artistas já passaram pelo Pão Bororó e alguns dos artistas fundadores também foram para outros circos, inclusive fora do Brasil, ou outros meios de cultura. Adailza, hoje é professora na cidade do Rio de Janeiro; Seu Ubaldo está no Cirque du Soleil; Tide é bailarina de um famoso grupo de dança contemporânea brasileiro; Seu Nezinho ficou conhecido como o grande palhaço Milonga.

Em 2014, com seus quarenta e dois anos de vida, o Circo Pão Bororó continua com a família Ostoiévsk, levando sonho e cultura a todos os recantos do Brasil. Atualmente está com a seu mais novo espetáculo: RESPEITÁVEL PÚBLICO! E é administrado pela primogênita, Ursula Leão Ostoiévsk, mais conhecida como Madame Ostoiésvska - a mulher barbada.

 MAIO, 2018.

                                  A dilatação do olhar, uma inquietação necessária - 2015.

 

Acredito que “tocamos” nossos alunos quando o conhecimento ultrapassa o limite do livro, da sala, vai para além da janela, do bairro, quando ele se volta para o corpo, para a troca, para a curiosidade, para o diálogo e quando também visita o perene, o brincar, a fantasia.

Nós devemos cultivar o olhar não somente para a aceitação, o imediato, mas como fonte de inquietação, transformação e criação. Quando desenvolvo uma atividade com o aluno, ele também se torna minha fonte de inspiração. Tento acompanhar a ideia desenvolvida, as experimentações, os desafios, as mudanças durante seu processo criativo e a elaboração da sua obra. É preciso também compreender os momentos de saturação/cansaço que não significam desistência, mas um momento de repor novos sopros criativos para a sua finalização com mais apuração. O olhar para o trabalho do aluno não deve passar apenas como  uma tarefa, e sim pelo árduo processo de criação que foi desenvolvido com todas as dificuldades, superações, conhecimentos, descobertas, curiosidade e criatividade. Isso precisa ser valorizado não só por meio de palavras, mas por ações verdadeiras que incluem o olhar curioso do professor sobre a produção do seu aluno. Instigar a inquietação no aluno e no professor é o desafio criativo. Não deixar-se acomodar entre as formas faz-se necessário. Muitas vezes é preciso transgredi-las. Criar é um exercício cotidiano. Olhar o desenho do caminho das formigas, a folha carcomida pelo tempo, o poema grafitado na rua, a interferência na paisagem natural, o som do vento misturado as buzinas, é desenvolver um olhar curioso de quem vê material de inspiração a sua volta. Também permitir-se ao “erro”, a deixar-se em alerta para o que surge de imponderável e isso possa ser um guia instintivo que recria o que ainda não foi criado.

Durante os processos criativos é necessário que se crie procedimentos que ajudem na organização, elaboração, desenvolvimento e investigação de cada aluno. A certeza do que é belo pode ser duvidável, os estilos são as diversidades, o sopro de originalidade e liberdade. As criações produzidas, se possíveis, devem ser valorizadas com molduras, assinatura do artista e guardadas com a devida atenção e cuidado. Somos os professores e não os criadores. Então, a entrega do trabalho deve ser feita sem que se dobre, amasse ou que passe a ideia de um trabalho sem valor, que foi feito por uma obrigação didática e não como um exercício de acuidade do olhar, de criatividade, autonomia, conhecimento e crescimento.

A motivação deve passar por essa dilatação criativa também no professor, porque interagimos, nos moldamos, transformando-nos, redescobrindo-nos, nos desfazendo e nos refazendo. O que se construiu pode ser desconstruído, pode ter sido apenas uma respiração, um sopro de vida com sua beleza e sua fúria. E ainda precisa ser mais? Não. É deixar experimentar-se em sua “dilatação criativa”, sua necessidade de transformação, de inquietação.

OUTUBRO, 2018.

SOU UM IGNORANTE DA VIDA.

 

 

Sou um homem comum

Qualquer um

Enganado entre a dor e o prazer

Hei de viver e morrer

Como um homem comum

Mas o meu coração de poeta

Projeta-me em tal solidão

Que às vezes assisto

A guerras e festas imensas

Sei voar e tenho as fibras tensas

E sou um

Ninguém é comum

E eu sou ninguém.

(Caetano Veloso)

O título que dou a este artigo parece diminutivo e confrontador, mas o que sou diante das mudanças e transformações que acontecem comigo e ao meu redor? Estou aqui para aprender, reaprender e trocar. A ignorância vem da possibilidade e da disponibilidade com o outro e com o ambiente. Dialogar. A escola é um campo de informação na ampliação de reflexões, discussões e possíveis transformações. Pergunto-me: Discutimos tantas teorias e saberes, mas qual o espaço do professor com seus pensamentos, questões e experiências sobre si e sobre o mundo? Nesse ambiente, muitas vezes rígidos, qual a linha que podemos construir, não mais verticalmente, e sim, horizontalmente? Seria um risco abrir para tal confrontação? Talvez sim. A educação está além do conhecimento, ou seja, numa visão integrada e global do ser humano. Pelo menos, deveria estar. Não procuramos dialogar com todo o hi-tech e com todo o aprendizado que as crianças carregam no seu DNA? O que temos a ensinar com mídias cada vez mais velozes que nossa capacidade de condutores de conhecimento? Temos a história constituída de todos os dias, com toda a diversidade, pluralidade e maturidade. A fala do seu pensamento é ouvida? Não somente a fala pedagógica, mas a fala da sua vivência e sua ética, diante das mudanças, incongruências, diferenças, confrontos que estão acontecendo? Essa é a nossa responsabilidade, além dos conteúdos programáticos. Faço um jogo de indagações que assolam minha cabeça. Dia desses em pleno ônibus, acredite, porque tal pensamento surgiu: Por que ainda professores da educação infantil e ensino fundamental I recebem seus honorários com tanta defasagem aos outros segmentos? Século passado (parece longe, mas não é), as mulheres se formavam no segundo grau como normalistas, sem precisar do terceiro grau para entrar em sala. Um trabalho com crianças que as preparariam para a construção da sua futura família. Um estágio de como lidar com a prole que viria após o casamento. O vínculo estava sendo construído, pois em sala já possuía muitos "pseudos-sobrinhos". Não é mesmo, Tia? Um serviço de meio expediente, já que teria o cônjuge para suprir suas necessidades. A cultura do falo. Hoje, conheço muitas profissionais que estão nesse espaço escolar com suas graduações, pós, mestrados e doutorados. Quando acompanho palestras vejo o foco as séries iniciais. Então, como explicar tal disparate? Vivemos numa sociedade patriarcal, retrógrada e machista, que mantém num segmento importante de construção, a infância, com algo em torno de 90% ocupado pelo sexo feminino, sob a subordinação do falocentrismo. Já os outros segmentos há uma concentração do sexo oposto, chegando o ensino médio a ser ocupado por uma faixa ainda maior de homens. Não fui atrás das estatísticas, mas das minhas experiências de anos de profissão por diferentes escolas. Giramos mais lento para as políticas educacionais que continuam ultrapassadas em sua ética, ações e sensibilidade para a sua grande rede de professorados. Cadê a cosmovisão para o atual momento? Hoje temos uma sociedade em completa diversidade e crescimento das potencialidades humanas, independente dos diversos gêneros, com falas ecoando na direção de direitos mais justos. Evoé!! Para que se construa uma comunidade mais igualitária é preciso abrir vozes para tais profissionais e todo o agrupamento de pessoas que compõem uma escola. Qual a ideia do professor na construção desse mundo diverso, diferente e injusto? As coordenações escolares deveriam expor, confrontar, refletir, acordar para uma ética de um futuro a ser construído também pelas dúvidas existenciais de sua equipe. Quem sou? O que sou? Que mundo posso oferecer? Qual a minha participação? Ouvir além do pensamento pragmático dos livros. Uma utopia ou passos a serem construídos através do diálogo, com todos os sim e não? Um pensamento para a vida e para a paz, respeitando todas as diferenças e culturas, num momento em que o mundo procura encarcerar a liberdade de expressão. #EleNão

Ele se enamorou de ti, atraiu-te e te quis em sua casa,

junto com Marte, Mercúrio, Vênus e outros planetas.

E celebrou esponsal contigo. De teu matrimônio

com o Sol nasceram filhos e filhas,

frutos da tua ilimitada fecundidade, desde

os mais pequenininhos: bactérias, vírus e fungos,

até os maiores e mais complexos: seres vivos.

E como expressão nobre da história da vida,

geraste a nós, homens e mulheres.

(Leonardo Boff)

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JANEIRO, 27/2018.

VAMOS "PARAR" COM A BRINCADEIRA.

Achei em meus guardados uma reflexão de 2006 que aqui compartilho abrindo o ano de 2018. Lá se vão doze anos, e ainda é preciso muito caminhar e luta para uma educação que reflita, pense e atue no homem de hoje e que seja para todos. A frase em que abro o tema, ainda é bem utilizada no universo escolar desde a chegada da criança até sua saída, e depois incontida no inconsciente. Pena! E dentro de nós, vamos introduzindo-a em diversas e diferentes ocasiões, principalmente com as crianças num dia mais cansativo quando não se quer dialogar ou sem o "precioso" tempo. Qual a prioridade? Lembro-me na época de escola a frase ser pronunciada com a voz grave e firme, ameaçadora, fazendo-nos calar até em pensamentos. E com medo se caminha para onde? Quando a ouço já não me causa insegurança, mas muito incômodo. A educadora Olga Reverbel já disse que a escola "é o lugar de infinitas possibilidades prazerosas de prazer". Pra isso, o espaço precisa ser alegre, de troca, respeito, disponibilidade, liberdade, criatividade, imaginação, e muito brincar. E o brincar, em muitos momentos, na forma como é dito dentro de uma situação pode abrir lacunas de interpretação. A criança quando quer outra coisa, está inquieta, chorosa, "reclamona", agitada para conversar, repetitiva, antes de querer entender o porquê, a frase já pulou dos lábios: Vá brincar que melhora. Em outros momentos, quando se está em ebulição de curiosidades, perguntas, vivas, a frase surge novamente com a naturalidade de que somos nós que não estamos disponíveis para o diálogo. A criança precisa estar , deve estar em estado exploratório no seu dia a dia. É assim que vão se descobrindo, reconhecendo, interagindo e atuando no mundo. Aos professores cabe-nos a estar atento às escutas, compartilhando as trocas, os focos de interesses, estímulos às curiosidades, acolhendo as fragilidades emocionais e ajudando-os em suas sustentações.O trilhar é a turma viva, participante, atuante - confundidas como barulhentas, com a alegria do brincar. Brincar é carregar-se de interesse, de perceber-se inteiro, de perceber o todo e como integrante desse todo. A ideia do brincar deve correr solta pelos corredores, salas e pátios das escolas. Brincar não é sinônimo de dispersão, bagunça ou confusão. E esse estado faz-se também necessário no professor, é preciso sentir-se curioso pela sua turma. Brincar é manter-se vivo, atento, responsável, com o pensamento ágil, concentrado, de preferência com tranquilidade, persistente, gostar de trocar com o outro - não reproduzir conhecimentos, descobrir o lúdico, o concreto, ser silencioso - em alguns momentos, sérios - em outros, é conhecer-se. E isso é o quê? O prazer que vem do brincar. 

DEZEMBRO, 27/2017.

O Alumiado foi criado para que eu abrisse mais um campo de investigação, desta vez com as palavras guardadas, mal ditas, escondidas, esquecidas e até ignoradas, juntamente com minhas imagens trabalhadas no cotidiano ou aquelas emergidas do inconsciente, aos poemas e à poesia de se reinventar criativamente. A Pandora abriu e levou minha esperança da crença no outro e na arte como transformação, afirmação, transgressão, crítica, anarquia, inquietação, liberdade para se expressar inteiro, de corpo todo, vivo, pulsante, atuante, bendito. Nesses 4 meses procurei diversificar, mostrando um pouco do trabalho realizado com as diferentes linguagens. Aqui não há a palavra final, porque estou em construção diária, estamos, com nossa criatividade. Também as palavras "benditas ou malditas" são parte do processo de reflexão. Passear por texturas, cores, volumes, traços, imagens, experimentações, textos e artistas é remexer nas emoções, avivar sentimentos, confiar na intuição e beber do conhecimento. Que a potência criativa existente em toda pessoa seja despertada, estimulada, exercitada, compreendida e desejada na construção diária de uma vida mais plena. Nos vemos em janeiro. Que venha 2018!

NOVEMBRO, 04/2017

Somente uma quimera?

Pergunto-me que momento é este que atravessamos? Acredito no pensamento como força libertária, revolucionária e anárquica. Mas, prender-se somente às palavras ditas, sem o esforço de ampliação da reflexão, é castrar-se ao ato da transformação. Vivemos momentos de novos paradigmas através de muitas lutas e conquistas ao longo da História. A luz, as novas possibilidades de pensar  o status-quo secularizado, provocam as sombras do medo, do ódio, da covardia, do preconceito, da ignorância, da arrogância e da prepotência. Aceitar que somos seres em constantes transformações é compreender a revolução e a evolução de que é feita a vida. E assim também o é o universo, vivo, cheio de experiências. Tudo está em constante mudança, ao mesmo tempo, e agora. Essa é a anarquia da pulsão criativa do universo e em nós. Somos todos dinâmicos, em construção no nosso dia a dia, a partir de nossas experiências. Saber que podemos ser  a perfeição de cada um, com as subjetividades que carregamos. Poder compreender que a perfeição é mutável, senão não há movimento, e sem movimento não há vida. Poder compreender que o pensamento deve ser transformador e transgressor, no sentido de aceitar e ampliar as pluralidades existentes, combater a opressão, a miséria humana do embotamento ao pensar, e assim criar uma relação de ética, justiça e respeito com todos os seres humanos e a Terra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Trago como professor o século passado, algo às vezes estranho de absorver, já que o novo me parecia tão remoto, naquela época. As crianças de hoje já nascem com outra inteligência, uma inteligência ágil que nos deixa surpresos muitas vezes. São do século XXI. Elas são ávidas por informações e por tecnologias, mas também são velozes em descartá-las. Elas os preencheram com conhecimentos apreendidos na velocidade do mundo contemporâneo. Muito se aprende com essa geração, mas o que podemos ensinar também? Conhecimento? Sim. Experiência? Sim. Trocar é compartilhar conhecimentos. Sem o outro não há diálogo. Num mundo com relações tão epidérmicas, com uma sociedade egocêntrica, cabe-nos promover a inquietação e a provocação do pensamento como uma parte que precisa ser dialogada junto a outras sutilezas humanas. Precisamos voltar a intuir, perceber, reconhecer, diagnosticar, identificar, acreditar numa inteligência mais sutil, mais genuína, onde o diálogo e o afeto sejam compartilhados. Uma relação nova para um tempo novo. Uma ética construída pela natureza humana, de uma necessidade desse ser humano novo. Uma quimera? Não. É preciso acreditar nas mudanças do mundo, dos alunos e nossas. É necessário construir essa nova relação. Para isso, faz-se primordial reconhecer o outro (pessoa e mundo) para nos reconhecer e continuar a dialogar, estabelecendo afetos, ética, trocas, respeito, justiça, cultura e saberes. A escola como auxílio e aprimoramento na construção de indivíduos capazes de gerir suas vidas com mais autonomia, com uma percepção mais apurada da sua importância na transformação do planeta e no respeito às diferenças. Porque somos todos coirmãos da mesma casa, somos todos indispensáveis para o bem viver coletivo na Terra, somos todos necessários a essa teia cósmica chamada universo. Porque somos complementares.

OUTUBRO, 04/2017.

Em 2011, trabalhei com a educação infantil o projeto sobre a Floresta Amazônica. Vou contar um pouco como desenvolvi a proposta de transformar o ateliê de artes em um espaço lúdico de criação, experimentação e interação.

Optei por seguir minha linha de pesquisa com a crescente participação das diferentes linguagens no processo criativo dos alunos e no novo ambiente que se apresentava. A cada aula eu os instigava a experimentarem novas ferramentas em suas criações e a pensarem sobre os nichos cênicos que foram surgindo.

Tinta, massinha de modelar, papel amassado, palha seca, serragem, folhas de árvores secas, palitos de picolé, cola e sementes eram alguns dos materiais utilizados na criação da nossa floresta. As folhas da pata de vaca transformaram-se em borboletas coloridas que flanavam em volta de um galho de árvore, como se estivessem vivas.  A utilização de materiais oferecidos pela natureza durante o seu ciclo viraram bichos, despertando a curiosidade e um novo olhar. A floresta foi sendo erguida com os diferentes tipos de papéis e texturas, fazendo despertar a percepção tátil e motora ao explorar o amassar do papel, a dobradura, a tinta escorrendo entre os dedos. O uso da força nas mãos para dar vida aos seres da floresta, a exemplo da formigas com seu caminho sinuoso, carregando as folhas para o formigueiro. O surgimento da comunidade que vive na ribeira dos rios, construída com sucatas e trabalhada com colagens e dobraduras. Suas palafitas que instigaram perguntas, como: Por que as casas são no alto? Saber da existência do período das cheias, que as canoas são meio de transporte e sobrevivência, descobrir peixes de água doce com nomes engraçados e esquisitos, como o tucunaré, pintado, tambaqui, pacu, entre tantos outros. A construção da nossa formação como povo brasileiro e da nossa identidade cultural através dos povos da floresta (índios, ribeirinhos, seringueiros) e nossas lendas e festas: boi bumbá, boto cor de rosa, Jaci, Yara.

O respeito e o cuidado pela natureza também se deram na criação de um viveiro de pássaros soltos com seus sabiás, canários, tiés sangue. O uso sustentável dos recursos da floresta, como o seringal erguido com a técnica da xilogravura, além de conhecerem Gilvan Samico, J. Borges. Depois, brincar com a extração do látex. O corpo sendo explorado ao adentrar as trilhas da mata fechada com suas árvores centenárias, desafiando-os a pularem ou passarem por debaixo de algum tronco caído. Ainda a possibilidade de transformarem-se corporalmente nos animais de seu habitat. A música ambientando a fantasia e levando-os a ouvir Villa Lobos, Uakti, João Carlos Assis Brasil. A literatura transformando-se em um chão seguro, onde a poesia de Manoel de Barros, Mário Quintana, Cecília Meireles, Cora Coralina, Adélia Prado, entre outros poetas, brotaram como frutos doces e suculentos a serem provados.

Inúmeras possibilidades de sensações, criatividade, imaginação, conhecimento, devem ser exploradas no ateliê laboratório. São perguntas que pipocam, descoberta de um olhar novo, as histórias lembradas e vividas, o jogo do faz de conta, o brincar, o lúdico, que os exercitam na construção de uma personalidade mais madura, segura, harmoniosa, afetiva, solidária, cidadã e universal.

A liberdade de escolher seu nicho de improvisação e poder brincar aprendendo. A alegria de entrar num ambiente construído com a participação de todos e cheio de descobertas para o pensar, despertando as potencialidades através do fazer artístico.

A transformação da sala de aula em um espaço de vivências, onde se sintam seguros e livres em suas experimentações, provocando-os criativamente a refletirem sobre o mundo. A dinâmica do ateliê é o estímulo à produção artística a partir do interesse sobre algum assunto, inclusão de outros, conhecer artistas, suas obras e técnicas, a cultura brasileira. É falar de arte, ecologia, literatura, dança, música, ciências, vida.

© 2017 Jefferson Barbosa

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